Acervo literário kardeciano

quinta-feira, 27 de junho de 2019

“Culpa e direito de errar” (Jorge Hessen)

“Culpa e direito de errar” (Jorge Hessen)


Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF

Moisés nos aconselhou O QUE NÃO DEVEMOS FAZER em nossa trajetória evolutiva, posteriormente, Jesus ensinou O QUE DEVEMOS FAZER e o Espiritismo sugere COMO FAZER. Essas reflexões nos remeteram ao “Projeto Espiritizar” volumoso estudo da coletânea psicológica de Joana de Angelis organizado pela Federação espírita do estado de Mato Grosso, do qual nos situamos como humílimo educando. 
Dentre múltiplos temas propostos pelo projeto, nomeamos o subtema “Culpa e direito de errar”, do módulo “Diretrizes seguras para libertar-se da culpa”, que abreviaremos nas reflexões a seguir.
O movimento da culpa é resultante do culto ao perfeccionismo, eis aí um capcioso quisto psicológico. Quando erramos, ao invés de assumirmos atitudes reparadoras, cultuamos uma perfeição impraticável e nos acusamos peremptoriamente, por conseguinte não nos consentimos o direito de errar com a correspondente obrigação de reparar.
É importante aprendermos e refletirmos com os erros, assumindo corajosamente a cogente reparação dos mesmos. Porém, se mergulharmos na síndrome da inútil culpa, minamos a autoestima e nos punimos, produzindo, assim, todo um estado psíquico de angústia. Deste modo, nos magoamos com agente mesmos e conservamos uma espécie de ferida aberta na consciência, apunhalando-a sem tréguas. À vista disso, não vivemos equilibradamente e transformamos nossos anseios em azedumes, mágoas, mau humor acoplados ao cortejo de antipatias, projetando nos outros os detritos psíquicos que empilhamos. 
Urge nos permitirmos o direito de errar. Até porque fomos criados simples e ignorantes. Ademais, como é possível, em nosso atual estágio evolutivo, acertar sempre? Isso é impossível! Assim raciocinando, é fácil perceber que a culpa é intensamente injusta conosco, porque ela não nos permite o direito de errar, aliás, direito que Deus nos proporcionou. Até porque, fomos criados simples e ignorantes a fim de que evoluíssemos gradualmente, errando e acertando até chegarmos à perfeição relativa, quando atingiremos o nível do “Guia e Modelo” da humanidade a partir de então não erraremos mais.
É crença vulgar e equivocada admitir a Justiça Divina como condenatória e punitiva. As Leis de Deus, incrustradas na consciência humana, não são punitivas, porém são educativas (provação) e reeducativas (expiação). Ora, se não nos permitimos o direito de errar e o dever de acertar, permaneceremos numa atitude preguiçosa passiva e acomodada. Para evitar que isso ocorra, é urgente movimentarmo-nos ativamente para a forçosa reparação ante os equívocos deliberados. 
Para tal, urge reflexão consciencial, esforço para nos harmonizarmos com as Leis divinas, coragem para pacificarmos nosso eu e desenvolvermos virtudes, evidentemente tudo isso é muito custoso. Mas não podemos permitir os extremos, ou seja, nem exigirmos de nós perfeição e nem ingressarmos na negligência de aperfeiçoamento, senão nos enleamos nas tormentas ao invés de harmonizarmos com nós mesmos (em essência). 
As quedas morais das experiências transatas não hão como alterá-las, porque a compulsão da culpa que trazemos de ontem somente será decomposta gradativamente, entretanto tudo que diz respeito aos erros do presente podemos mudar. Como? Já não nutrindo o mecanismo da inutilidade da culpa quando erramos hoje. Sim, podemos alterar-lhe, tendo consciência de que podemos errar, todavia temos a obrigação de reparar o erro de forma amorosa, bancando o bem na fronteira das nossas energias.
A culpa é um anseio de prepotência e onipotência porque cobiçamos assumir os atributos de Deus ao divergirmos da Lei de misericórdia e da Lei de amor, justiça e caridade. Ora, se Deus não nos pune, então instituímos uma lei particular e através de um auto decreto infligimos a lei de autopunição.
Naturalmente na condição de seres humanos acertamos e erramos consecutivamente. Ou seja, temos sucessos ou desacertos nos empreendimentos da vida. Um aprendiz consciente aprende mediante a experiência que nem sempre é laureada de sucesso. Em verdade, o aprendiz consciente objetiva o acerto, mas não na exigência de acertar, porém se esforça em dar o melhor sem paranoides e sem desleixos desculpistas, porque é consciente e como tal, se vê como aprendiz responsável. 
Com efeito, se errar o foco dele será no aprendizado em relação ao erro porque a exclusiva atitude positiva e proativa frente ao erro é aprender com ele. Então o aprendiz se esforçará para dar o melhor, admitindo que nesse movimento pode equivocar e ao errar aprenderá e reparará o engano quantas vezes forem necessárias. 
Por outro lado, o perfeccionista não quer errar, porque crê que o erro traz punição e como já está cansado de ser penitenciado escolhe desenvolver a agreste culpa. Naturalmente sob o véu do perfeccionismo está embutida a soberba egoica. Por causa disso, quando acerta blasona, mas quando erra se percebe como um asno e se arremessa no despenhadeiro da culpa. É essa dualidade que sobrevém ao perfeccionista. 
A pessoa que acredita que a perfeição é o limite entra no processo de autoflagelação, porque percebe como difícil e ilusória qualquer aspiração libertadora. Na verdade, não é difícil, é fadigoso, porque precisa larguear o amor para governar todas as demais virtudes que transmutarão o processo de culpa. Porque a imprestável culpa é um movimento de auto desamor profundo, uma cruel repressão do amor. O culpado quer sofrer as consequências martirizantes dos erros porque acha que esse mecanismo é libertador. Mas só e unicamente o amor liberta a consciência.
O nosso compromisso consciencial é realizar o bem no limite das nossas forças. Porém, nosso movimento psíquico de cansaço angustiante e inquietante decorrente da culpa só será superado com o descanso para a alma conquistado pelo jugo do amor, da mansidão e da humildade conforme nos convidou Jesus. Isso será determinante para nosso desenvolvimento consciencial como aprendizes da vida que somos. 


A família como estrutura capaz de nos sustentar nas lutas da vida

A família como estrutura capaz de nos sustentar nas lutas da vida (Jorge Hessen) 

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília/DF


Os Benfeitores espirituais esclarecem que de todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida. A família reaviva em nós as sensações de segurança e aconchego, tal a importância do grupo familiar como estrutura capaz de nos sustentar nas lutas da vida.

Atualmente o distanciamento familiar tem sido definido como a perda de afeto que ocorrem ao longo de anos ou mesmo décadas em uma família. O divórcio contribui para a perda de relacionamentos familiares, especialmente com os pais. O abandono de parentes com identidades marginalizadas também é um fator comum, como a rejeição familiar a minorias sexuais e de gênero, por exemplo.

Também é importante notar que o distanciamento nem sempre é permanente. As pessoas se afastam e se reaproximam. Ademais, cortar o contato com um membro da família pode ser muito doloroso devido à forma como a sociedade não entende bem e atribui a isso um aspecto de vergonha ou reprovação.

Os laços de família são necessários à harmonia e evolução da sociedade. O resultado da negligência ou ruptura dos laços familiares leva a exacerbação do egoísmo. Existem duas espécies de vínculos familiares: os espirituais e corporais. As ligações corporais são frágeis e temporárias, entretanto os laços espirituais se fortalecem pela união e se vinculam na eternidade por meio das múltiplas migrações do Espírito.

É impossível auxiliar a composição social, quando ainda não conseguimos ser úteis nem mesmo com a família em que Deus nos colocou, a título precário. Portanto, antes da grande projeção pessoal na obra coletiva, aprendamos a colaborar, em favor dos familiares, no dia de hoje, convicto de que análogo empenho importa realização essencial.

A nossa família consanguínea pode ser contemplada como o cerne eficaz de nossas representações. Imagens aprazíveis ou desagradáveis que o pretérito nos restitui. Aprendamos antes de tudo a exercer piedade para com a própria família e a recompensar nossos pais, porque isto é bom e agradável diante de Deus , conforme narrava Paulo de Tarso.

A família é uma escola onde aprendemos a amar umas poucas pessoas para um dia amar a Humanidade. É assim que em nossas múltiplas existências aprendemos lidar com o amor, nos seus diversos aspectos: amor de mãe para filho, de filho para mãe, de irmão para irmão, de avô para neto, de neto para avô, de tio para sobrinho, de sobrinho para tio, de esposo para esposa e assim por diante. E, quando alcançamos amar genuinamente um filho, por exemplo, nosso coração se comove igualmente pelos filhos alheios.

Ponderando-se sobre a lei da reencarnação consolidamos os laços de afetividade com maior número de Espíritos, que (re)nascem sob o mesmo teto que nós. Dessa forma, nossa família espiritual se amplia e os laços de bem-querer se solidificam a cada nova possibilidade de convivência. Deste modo, conviver em família é um desafio e, igualmente, um formidável aprendizado, pois o convívio cotidiano nos oferece ensejo de cinzelar as arestas com os que eventualmente tenhamos alguma contenda.

(Re) nascendo no mesmo reduto doméstico é mais fácil suplantar os desamores, pois os vínculos consanguíneos ainda se compõem numa referência altiva a benefício da indulgência e da coexistência serenas. É por isso que existe a família: para que aprendamos a exercitar o amor na condição de irmãos, pois que todos somos filhos do mesmo PAI.