Acervo literário kardeciano

sábado, 22 de agosto de 2020

O labéu do aborto no imaginário de uma menina

 O labéu do aborto no imaginário de uma menina


Jorge Hessen

jorgehessen@gmail.com

Brasília - DF

 

Pela legislação brasileira o aborto é autorizado em casos de gravidez resultante de estupro, foi o que fez a Justiça do Espírito Santo dando aval para que a menina de 10 anos, grávida após ter sido estuprada pelo tio, interrompesse a gestação. O enredamento do evento não nos deve ofuscar a reflexão cuidadosa e lógica dos fatos. Urge considerar que a menina violentada já estava com 23 semanas de gestação. Nesse caso, nossos expedientes éticos propendem em defender as duas vidas, posto que nesse caso, quiçá seja injustificável a condenação à pena de morte de um bebê de quase seis meses.

Porém, em “benefício” do aborto, destroçou-se não apenas o bebê, mas também potencializou os efeitos colaterais do trucidamento na delicada fisiologia da menina. Obviamente nessas conjunturas é preciso acautelar-nos sobre as nossas acaloradas opiniões eivadas de pensamentos vingativos, emoções contumazes, vocábulos condenatórios hostis. Nesse deplorável contexto, seria razoável advogar inapelavelmente a favor do aborto? Não creio! A respeito do dantesco fato algumas instituições religiosas emitiram opiniões oficiais contrárias ao procedimento abortivo. Porém, o caso foi judicializado, cabendo formalmente o cumprimento da lei a desfavor do bebê.

No Brasil, todos os anos, há aproximadamente 30.000 gestações de menores de 14 anos. O episódio levantou muitas celeumas. Evitando aqui o ranço da espetacularização midiática, é importante citar que a maioria da população brasileira é contrária à prática do aborto. O Espiritismo também não tolera, admitindo-o, porém, exclusivamente, quando a mãe corre “risco de morte”.

No caso da menina violentada, alguns especialistas admitiram que as consequências da gestação poderiam ser catastróficas. Disseram que poderia haver uma obstrução do parto, causado pela desproporção cefalopélvica, que ocorre quando a abertura pélvica da mãe é pequena para permitir que a cabeça do bebê passe durante o parto. A septicemia (infecção generalizada), o descolamento da placenta por conta da hipertensão arterial, a hipertensão ocasionada pela gravidez, inclusive pré-eclâmpsia e eclampsia, se não tratados, podem provocar parada cardíaca ou derrame, resultando em morte, tanto para a menina como para o bebê. Se tais prognósticos resultam 100% correta o aborto era indispensável, sem dúvida.

Mas, será que todos os médicos partilhavam dessa mesma opinião? Será que a bestialidade do estupro poderia ter sido evitada com a intervenção espiritual? Será que os espíritos responsáveis pelo controle das encarnações estavam ausentes? Seria, neste caso, uma reencarnação acidental? Particularmente, não creio que tenha havido "programação espiritual" para tal reencarnação e muito menos que a menina tivesse que passar pela penúria da gravidez, por ato de violência de um parente, e ter filhos aos 10 anos de idade. Mas não compreendo racionalmente tanto furor na defesa do aborto (inclusive provindo de “espiritas”).

Se realmente existia iminente risco à vida da menina, que, nesse caso (para alguns médicos) foi o aborto necessário, não entraremos no mérito desse consentimento científico. Pois na resposta dada à questão 359, em O Livro dos Espíritos, fica aberta a questão: "Preferível é se sacrificar o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe." Cada caso é um caso. Há casos e casos, há exceções, há atenuantes que não vamos discutir aqui. É mais do que lógico que o tema aborto não pode ser banalizado a partir do caso da menina violentada. Devemos lutar pela vida com as suas máximas consequências, ininterruptamente, em qualquer circunstância.

Salvo melhor juízo, assumo que não aprovaria o aborto de um bebê de quase 6 meses, praticado na menina do estado do Espírito Santo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Em torno da sexualidade

 Em torno da sexualidade


Jorge Hessen

jorgehessen@gmail.com

Brasília - DF

 

A arremetida teórica sobre a sexualidade humana é profundamente complexa. A aberração da prática sexual, quando somente visa a satisfação egoística , imediata e desvairada, cede lugar a patologias graves que rebaixam o ser humano. Há espíritos que ainda não conseguiram superar as viciações sexuais que trazem do passado e que entorpecem a consciência. Há casos obsessivos gravíssimos, conquanto incomum, em que a mulher insaciável coaja (“estupre”) o homem na área sexual.

Perante as leis humanas e de civilidade é preciso manter a observância às normas e regras, que nos diferem dos seres irracionais. Ora, do ponto de vista biológico, a sexualidade é uma sublime seiva para manter a vida em padrões de estabilização e de encanto, proporcionando, quando o seu uso é ético e equilibrado, contentamento e completude nos relacionamentos. Somos impregnados desse potencial sexual e convocados a aprender a discipliná-lo.

A sexualidade não pode ser avaliada sob o prisma dos que a consideram impura e proibitiva, muito menos sob as impressões dos que anseiam algemá-la ao plano da banalidade como simples fricção de células causadoras de clímax orgástico. A sexualidade humana é de procedência divina e sua possante energia, que alastra naturalmente no ser, não deve ser tratada de forma insana, todavia urge ser disciplinada no sentido de atingir seu desígnio, como força fecunda e criadora, a fim de produzir o avanço espiritual do homem.

Quando um casal se ama, os parceiros se apetecem e se reverenciam. A vida e experiência sexual entre ambos é respeitosa e prazerosa. O amor entre os dois não está condicionado apenas à sexualidade, todavia vai muito mais além, incluindo amizade, companheirismo e cuidado pela satisfação de suas necessidades. Quando, porém, isso não ocorre e há a necessidade compulsiva de sexo de um ou ambos companheiros, esse casal não está em harmonia; encontra-se psicologicamente corrompido e não é feliz.

Naturalmente precisamos exercer a indulgência para com aqueles que são servos da sexolatria, compreendendo que cada ser é um ente divino em suas potencialidades de amor que eclodirão no futuro, até porque esses atrasos morais são particularidades do estágio de expiação e provas do homem terreno.

É urgente orar e orientar aqueles que nos solicitam auxílio, demostrando as implicações infelizes do sexo em desatino e conforme nos advertem os Benfeitores do além,  diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, coloquemo-nos, em pensamento, no lugar dos desajustados, analisando as nossas tendências mais íntimas e, após verificarmos se estamos em condições de censurar alguém, escutemos no âmago da consciência, o apelo inolvidável do Cristo: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Cuidemos do nosso habitat planetário

 Cuidemos do nosso habitat planetário

Jorge Hessen

jorgehessen@gmail.com

Brasília - DF

Inobstante não tenha sido esta a primeira vez na história, certamente não será a derradeira, em que a vida da população jaz ameaçada por devastadora pandemia. Há uma estreita analogia entre ação humana no orbe e o advento de patologias pandêmicas, considerando a desrespeitosa indiferença pelo habitat (meio ambiente).

O formato de perseguir riqueza e poder sem se importar com as consequências, levou o planeta "à beira do abismo". É urgente revigorarmos o orbe no campo da responsabilidade individual, desacelerando o bestial consumismo, onde se tem priorizado mais o ter (transitório) do que o ser (permanente). É mister ajuizarmos que o planeta é compartilhado e cada um tem que fazer a sua parte para mantê-lo em boas condições de habitabilidade.

Cada governante deve adotar políticas para o bem comum. Os empresários podem coadunar a busca natural pelo lucro com a justiça social. Dá para pensar em distribuir esses ganhos entre os que movem a organização, que são as pessoas. É preciso buscar um acordo, uma boa convivência planetária. Um conglomerado de líderes e governantes nacionais que se reúnam pelo bem do planeta, deixando de priorizar somente o lucro e o poder para o reinado do materialismo.

O planeta está seriamente enfermo, jaz em avançado e abatido estágio de imoralidades, por isso é necessária a intervenção da Providência Divina para que a ruína moral não avassale mais intensamente a harmonia do todo reinante perante a beleza natural.

O ecossistema, como um todo, tem trabalhado com hercúleo esforço para se desatrelar do guante deletério daqueles que abusam dos recursos naturais. Os laboratórios donde deveriam nascer os recursos para o bem estar e saúde da população têm sido núcleos calamitosos de manejos técnicos para desenvolvimento de mortíferas substâncias biológicas em nome da guerra.

Allan Kardec, nos trouxe oportunas reflexões, através dos espíritos, sobre as relações entre os seres vivos e o habitat e o quanto um depende do outro. O homem começa a perceber, hoje, em face dos alardes sobre o avanço da degradação do planeta, que não há como haver uma produção ilimitada deles na biosfera, que é finita e limitada. 

Em uma sociedade de consumo, como a nossa, nenhum de nós se contenta apenas com o necessário. Cada um de nós é responsável por tudo isso que está aí. O meio ambiente somos nós, o meio que nos cerca e as relações que estabelecemos com ele. A boa convivência planetária transcende ao gueto da fauna, flora e preservação. É muito mais que isso.

Na verdade, quando o planeta adoece, nosso projeto evolutivo fica comprometido. Não é possível esperar a chegada do mundo de regeneração indiferentes à tanta degradação. Pelos mecanismos da reencarnação, se ainda quisermos encontrar aqui estoques razoáveis de água potável, ar puro, terra fértil, menos lixo e um clima estável, sem os flagelos previstos pela queima crescente de petróleo, gás e carvão que agravam o efeito estufa, deveremos agir agora, sem perda de tempo.

Cremos que após a atual pandemia, advirão outros paradigmas comportamentais da humanidade, considerando que as novas gerações que estão chegando têm o firme compromisso de estabilizar o equilíbrio na dinâmica da vida planetária, considerando o momento de regeneração.